A China introduziu regras rigorosas para as tecnologias de condução autónoma. Ficam proibidas as funções de controlo remoto e os programas públicos de testes.
Neste artigo:
Preocupações com segurança
As medidas hoje anunciadas pelo Ministério da Indústria e das Tecnologias da Informação (MIIT) da China têm impacto em construtores que faziam da condução autónoma o seu elemento diferenciador, como a XPeng, a Huawei ou a Nio, e mesmo a Xiaomi, que tem 1.000 pessoas a testar as suas funcionalidades de condução autónoma.
A decisão do ministério chinês hoje anunciada é o resultado da reunião de ontem sobre gestão de veículos inteligentes conetados. O passo atrás decidido pelo MIIT deve-se a preocupações com a segurança motivadas por um acidente com 3 vítimas mortais que teve grande alcance mediático na China.
Funções remotas proibidas
Todas as funções remotas passam agora a estar proibidas na China. O MIIT proibiu todas as funções que funcionam sem a supervisão do condutor – incluindo o estacionamento autónomo, o chamar o automóvel e as funções de controlo remoto.
O ministério sublinhou que “estas funções não serão aprovadas para produtos”, uma vez que não podem garantir a participação do condutor e a segurança operacional.
Menos atualizações Over The Air
A frequência das atualizações Over The Air (OTA) é criticada pelo Ministério da Indústria e das Tecnologias da Informação. O MIIT afirma que um dos objetivos da nova regulamentação é “reduzir as frequentes atualizações OTA e melhorar a gestão dos riscos das versões.”
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As atualizações de emergência passam a exigir procedimentos de recolha e a aprovação da Administração Estatal para a Regulamentação do Mercado.
Acabam os testes com utilizadores beta
A partir de agora os testes beta de “utilizadores pioneiros”, que eram prática habitual da indústria, devem ter o ok oficial primeiro. “Os testes públicos, quer com milhares ou dezenas de milhares de utilizadores, devem passar pelos canais de aprovação oficiais,” afirma o MIIT.
Esta medida põe fim à abordagem inspirada nos smartphones de recrutar utilizadores Beta para testar e dar o feedback sobre as funcionalidades de condução autónoma. Com as novas regras, este tipo de abordagem tem de ser primeiro aprovado pelas autoridades.
Sistemas de monitorização do condutor
Os novos regulamentos determinam que os sistemas de monitorização do condutor não podem ser desativados e devem detetar quando os condutores retiram as mãos do volante.
Se a deteção de mãos paradas exceder 60 segundos, o sistema deve implementar estratégias de mitigação de risco, como abrandar, ativar as luzes de perigo ou encostar, o que já é prática habitual em sistemas de condução autónoma de nível 3.
Publicidade com restrições
A publicidade às propriedades de condução autónoma dos veículos é também fortemente restringida pelos novos regulamentos publicados hoje.
Os fabricantes de automóveis devem agora evitar termos como “condução automática”, “condução autónoma”, “condução inteligente” ou “condução inteligente avançada” nos seus materiais de marketing.
Em vez disso, devem utilizar a formulação “condução assistida por L(número)” e respeitar rigorosamente as classificações do nível de automatização.
Rever estratégias no Salão Automóvel de Xangai
Os observadores do sector notam que estes regulamentos surgem pouco depois de um incidente com um Xiaomi SU7 que circulava com o autopiloto ligado e de que resultaram três vítimas mortais. A exposição mediática deste acidente levou as autoridades a dar prioridade à segurança em detrimento do rápido avanço tecnológico.
O momento escolhido pelo MIIT para anunciar o novo regulamento não é casual. A nova regulamentação surge pouco antes do Salão Automóvel de Xangai, onde se esperava que as caraterísticas da condução autónoma fossem fortemente promovidas.
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Se, por um lado, o momento escolhido assinala a determinação do governo chinês em regulamentar este sector de forma mais rigorosa, por outro vem criar problemas aos departamentos de marketing das marcas, que apostavam na publicitação da condução autónoma e vão ter de rever a sua estratégia.