A Administração Trump prepara-se para pôr em leilão milhares de carrinhas elétricas dos correios, o Serviço Postal americano (USPS), completamente novas. O retorno, dizem os próprios correios, será “negligenciável”.
Neste artigo:
Carrinhas elétricas dos correios sem mercado
Por ordem do congresso, o Serviço Postal dos Estados Unidos prepara-se para colocar em leilão as carrinhas elétricas dos correios que mantém na sua frota. Mas, como são veículos especiais “sem mercado”, podem vir a ser por valores muito abaixo do seu valor real.
De acordo com o Washington Post, uma cláusula pouco divulgada do ambicioso pacote fiscal e migratório apresentado pelos republicanos poderá obrigar o Serviço Postal dos EUA (USPS) a desfazer-se de grande parte do seu investimento em veículos elétricos.
Veículos vendidos em leilão
A proposta dos republicanos liderados por Donald Trump propõe que os cerca de 7.200 veículos já adquiridos e os carregadores instalados passem para a alçada da Administração de Serviços Gerais e sejam vendidos em leilão. Segundo especialistas, o retorno financeiro seria “negligenciável”, dada a escassa procura por veículos postais e a impossibilidade de reutilizar muitos dos carregadores já embutidos em instalações do USPS.
Este retrocesso surge no contexto de um esforço republicano para compensar os custos da sua política fiscal — orçada em quase 4 mil milhões de dólares — através de cortes em iniciativas ambientais e programas sociais. A proposta também prevê o desmantelamento da Lei da Redução da Inflação de 2022, que representou o maior pacote climático da história dos EUA.
Eletrificação vista como capricho
Apesar de o projeto ainda estar a ser debatido no Congresso, o sinal político é claro: para os republicanos, a eletrificação dos correios é vista como um capricho ambiental da era Biden, e não como uma estratégia viável de modernização logística e redução de emissões. Para o setor da mobilidade elétrica, pode significar um duro golpe num dos maiores programas públicos de frotas elétricas do país.
Um resumo da legislação divulgado pelo senador republicano Rand Paul, que preside ao Comité de Segurança Interna e Assuntos Governamentais, referiu que a disposição “visa cortar custos desnecessários e concentrar o USPS na entrega de correspondência e não na concretização das iniciativas ambientais promovidas pelo governo de Biden”.
Um contrato com problemas
O contrato para a aquisição pelo USPS das carrinhas de entregas “de nova geração” tem sofrido muitos contratempos, com a fornecedora Oshkosh a enfrentar atrasos e problemas de engenharia durante as primeiras fases de fabrico, e desentendimentos — e acusações de desonestidade corporativa — entre executivos, que prejudicaram o processo de produção, de acordo com o The Washington Post.
A Oshkosh deveria ter entregado cerca de 3.000 veículos até ao final de 2024. Em vez disso, forneceu cerca de 100 e aumentou os seus preços, uma vez que o Serviço Postal encomendou EVs adicionais. Elon Musk afirmou na rede social X, ainda antes de se zangar com o presidente Trump que o preço pago por veículo era “absurdo”.
Impacto “devastador”
“O impacto seria devastador. Estima-se que o serviço postal perca 1,5 mil milhões de dólares cruciais para a substituição da frota obsoleta”, alertou Peter Pastre, vice-presidente do USPS para as relações governamentais, em carta aos senadores. Além disso, grande parte dos contratos com fornecedores já foi formalizada, o que poderá acarretar custos legais e indemnizações.
Em 2022, o USPS lançou um plano para eletrificar a sua frota, prevendo a aquisição de 66 mil veículos de entrega, entre os quais se destacam os Next Generation Delivery Vehicles, carrinhas elétricas dos correios produzidas pela Oshkosh Defense, e centenas de E-Transit da Ford. Paralelamente, mais de 500 milhões de dólares foram canalizados para modernizar centros logísticos e instalar infraestrutura de carregamento adaptada. Ao todo, o plano previa um investimento de 9,6 mil milhões de dólares.
Eletrificação da frota dos Serviços Postais é urgente
O projeto de eletrificação da frota tem um custo estimado de 9,6 mil milhões de dólares, dos quais 3 mil milhões de dólares deste vêm do dinheiro dos contribuintes para cobrir a diferença de custo entre veículos movidos a gasolina e veículos elétricos mais caros. O restante financiamento provém das contas independentes do Serviço Postal. A agência é em grande parte autossuficiente, financiada pela venda de produtos postais.
O programa de eletrificação da frota dos Serviços Postais dos Estados Unidos, lançado em 2022, tinha por objetivo substituir uma frota obsoleta. A maior parte das carrinhas de distribuição dos USPS tinha sido adquirida entre 1987 e 1994.
66.000 carrinhas elétricas
Em 2022, o plano anunciado pelos USPS tinha como objetivo adquirir 106.000 novos veículos de distribuição, dos quais pelo menos 66.000 seriam elétricos, tendo em 2023 feito a primeira encomenda de 9.250 carrinhas elétricas.
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“Isto custará ao Serviço Postal 1,5 mil milhões de dólares em fundos de que precisamos desesperadamente para servir o povo americano e prejudicará seriamente a nossa capacidade de substituir uma frota de entregas envelhecida e obsoleta”, escreveu Pastre. “Instamos o Senado e a comissão a fazer uma pausa e a considerar os danos substanciais que esta proposta causaria ao Serviço Postal e aos nossos clientes, os seus eleitores”.