O e-car BEN estacionado em frente ao CEiiA O e-car BEN estacionado em frente ao CEiiA

BEN: o e-car português ganha homologação europeia

Chama-se BEN, é um e-car português, e entra em produção em massa no próximo ano.

Portugal passa a ter, a partir de hoje, um automóvel elétrico “made in Portugal” homologado para circular em toda a União Europeia: chama‑se BEN e é o e‑car desenvolvido pelo CEiiA, em Matosinhos.

Ouve o resumo do artigo:

BEN

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BEN: o e‑car português que ganha a Europa

O BEN acaba de receber o certificado de homologação da União Europeia, o que lhe permite ser conduzido em qualquer país europeu e consolida o projeto como um produto pronto para sair do laboratório para a estrada. Já em testes em várias estradas europeias, o pequeno elétrico foi desenhado para ser usado e transacionado como serviço, focando‑se em mobilidade partilhada, frotas urbanas e novos modelos de uso em cidades.​

BEN infografia

Infografia gerada por IA

Segundo o CEiiA, o projeto posiciona‑se como um e‑car pequeno, acessível e sustentável, alinhado com a estratégia europeia de promover veículos compactos e eficientes para reduzir emissões e descongestionar os centros urbanos.​

Um processo longo, uma homologação estratégica

Embora o desenvolvimento tenha sido conduzido pelo CEiiA, o caminho até à homologação europeia passou por um processo “longo e exigente” de certificação técnica conduzido pela IDIADA, em Espanha. Só agora, com a conclusão desta etapa, o BEN obtém o certificado que abre a porta à sua utilização em larga escala nas estradas europeias.​

Para Helena Silva, administradora e CTO do CEiiA, “com o BEN, Portugal é, a partir de agora, um construtor de mobilidade europeu”, sublinhando que o projeto foi criado como resposta a “um novo modelo social inclusivo que passa por e‑cars mais acessíveis, pequenos e sustentáveis”.​

Produção: da BEN Garagem à escala europeia

Com a homologação garantida, o próximo passo é a construção de uma primeira série de unidades na chamada BEN Garagem do CEiiA, em Matosinhos, numa lógica quase artesanal mas já industrial. Depois desta fase inicial, está prevista a construção de lotes em edições limitadas, customizadas para diferentes aplicações – de transporte de passageiros a pequenas entregas – acompanhada da evolução da unidade industrial piloto, a pilot plant BEN, com capacidade para produzir cerca de 200 veículos por ano.​

O objetivo declarado pelo CeiiA é ambicioso: iniciar a produção em larga escala em 2026, em vários sítios de produção em Portugal e na Europa, com negociações em curso para, em 2030, atingir uma produção descentralizada de 20.000 unidades por ano, com um preço de entrada a partir dos 8.000 euros. “O BEN está, assim, alinhado com a iniciativa ‘Small and Affordable e‑car’ lançada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com o objetivo de criar um carro do futuro europeu”, reforça Helena Silva.​

Contador de CO2 e tecnologia AYR

Um dos elementos mais diferenciadores do BEN é ser o primeiro e‑car equipado com um contador de emissões de CO2 evitadas, capaz de registar em tempo real as emissões poupadas durante a utilização face a um veículo convencional.

Essa funcionalidade assenta na tecnologia AYR, distinguida com o Prémio Bauhaus Europeu em 2021, e foi concebida para permitir que o próprio uso do veículo compense as emissões de carbono associadas à sua produção.​

O e-car BEN estacionado em frente ao CEiiA
O BEN já pode ser conduzido em qualquer ponto da Europa @CEiiA

A plataforma digital SPIRIT foi desenvolvida precisamente para suportar esta visão, ao permitir a quantificação e monitorização contínua das emissões evitadas, integrando dados do veículo, do utilizador e das infraestruturas envolvidas nos serviços de mobilidade.​

SPIRIT: o “cérebro” digital fora do carro

O BEN nasce da integração de duas plataformas: a SPIRIT, digital, e a BODY, física. A SPIRIT é descrita pelo CEiiA, em comunicado, como uma camada de software “out‑of‑car”, ou seja, externa ao veículo, concebida para evoluir de forma contínua com novas funcionalidades e serviços.​

“Com o BEN, Portugal é, a partir de agora, um construtor de mobilidade europeu”

Helena Silva, administradora e CTO do CEiiA

O SPIRIT já identifica o utilizador através de sistemas biométricos, permitindo o acesso ao e‑car por chave digital partilhada pela comunidade e a configuração do veículo ao serviço com base em inteligência artificial e data analytics, incluindo um Digital Twin em tempo real.

Com esta arquitetura o SPIRIT pretende assegurar uma integração plena entre veículos, utilizadores e infraestruturas, abrindo o caminho a modelos de mobilidade mais inteligentes, conectados e centrados nos dados.​

BODY: plataforma modular pronta para serviços

No plano físico, a plataforma BODY assenta numa estrutura modular leve baseada num “skate” com 2,50 m de comprimento, 1,50 m de largura e 1,52 m de altura, concebida para maximizar o espaço útil em footprint reduzido. O interior é descrito como flexível e multiconfigurável, com capacidade para até três lugares e um volume entre 100 e 400 litros, adaptável a diferentes tipos de serviço.​

A BODY foi ainda preparada para futuros sistemas de condução autónoma e definida como uma base acessível e adaptável a várias aplicações, desde o transporte de passageiros a pequenas entregas urbanas ou outros serviços de última milha.​

Uma das principais concretizações da Be.Neutral

O BEN é apresentado como uma das principais concretizações da Be.Neutral, a Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial Verde integrada no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e gerida pelo IAPMEI. Esta agenda, liderada pela NOS, envolve 40 parceiros, entre os quais o CEiiA e oito municípios do Norte, com destaque para Guimarães, já designada capital europeia verde em 2026.​

Ao posicionar o BEN como veículo‑serviço inserido numa plataforma digital e física, a Be.Neutral procura criar um ecossistema em que cidades, operadores e utilizadores possam experimentar soluções de mobilidade elétrica mais acessíveis, escaláveis e alinhadas com as metas climáticas europeias.​

“Carro do futuro europeu” com selo português

Para o CEiiA, o significado simbólico é tão relevante quanto o tecnológico: “Criámos o BEN como resposta da Europa a um novo modelo social inclusivo”, sublinha Helena Silva, insistindo na ideia de que este e‑car está alinhado com a visão europeia de um “small and affordable e‑car”. O projeto pretende demonstrar que é possível conceber, desenvolver e produzir em Portugal um veículo elétrico pensado desde a raiz para serviços de mobilidade, com forte integração digital e foco em emissões evitadas.​

BEN numa rua do Porto. Imagem gerada por IA
O BEN é um carro-serviço

Imagem gerada por IA

Com a homologação europeia assegurada e um plano de industrialização que aponta para 20 mil unidades por ano até 2030, o BEN emerge como um dos casos mais visíveis da nova vaga de mobilidade elétrica acessível na Europa, bem como o cartão de visita de um Portugal que se quer afirmar também como produtor de soluções de mobilidade, e não apenas como mercado consumidor.​

Europa impulsiona e-car

A decisão da União Europeia de impulsionar os e‑car cria o contexto político perfeito para um projeto como o BEN, que encarna precisamente a visão de um “small and affordable e‑car” europeu, eficiente, compacto e produzido em solo europeu.

Ao chegar à homologação comunitária nesta fase, o elétrico português posiciona‑se como resposta concreta a uma agenda europeia que quer mais mobilidade elétrica acessível, menos dependência de importações e uma indústria automóvel competitiva na transição verde.​

A nova categoria europeia de pequenos e‑car

A Comissão Europeia tem em aprovação um pacote automóvel que inclui uma nova categoria para pequenos e‑car acessíveis, com regras técnicas simplificadas para veículos elétricos compactos até cerca de 4,2 metros, como forma de baixar custos e acelerar a adoção de modelos urbanos a bateria.

Esta abordagem segue o repto lançado por Ursula von der Leyen no discurso do Estado da União de 2025, quando defendeu que “a Europa deve ter o seu próprio e‑car: ambiental, económico e europeu”, abrindo a porta a uma classe de elétricos pensados para as cidades e para orçamentos mais baixos.​

“Criámos o BEN como resposta da Europa a um novo modelo social inclusivo”

Ao propor supercréditos e incentivos específicos para pequenos elétricos produzidos na UE, Bruxelas quer criar volume industrial suficiente para tornar viáveis modelos de margem mais curta, mas preço mais competitivo, frente à pressão crescente dos fabricantes chineses.​

BEN como resposta ao “small affordable e‑car”

É neste enquadramento que o CEiiA sublinha que o BEN “está alinhado com a iniciativa ‘Small and Affordable e‑car’ lançada pela presidente da Comissão Europeia”, assumindo‑se como um dos primeiros projetos a materializar essa visão com ADN português. A combinação de uma plataforma física BODY, leve e modular, com uma plataforma digital SPIRIT, orientada para serviços de mobilidade, encaixa na estratégia europeia de criar e‑car urbanos, partilhados e conectados, capazes de reduzir emissões e congestionamento nas cidades.​

Com um preço de entrada anunciado a partir dos 8.000 euros e um modelo pensado para ser usado como serviço, o BEN alinha‑se com o objetivo político de colocar no mercado pequenos elétricos acessíveis para classes médias e baixas, apoiando também esquemas de leasing social e frotas municipais verdes.​

Transição energética, indústria e competitividade

A iniciativa europeia dos pequenos e‑car surge no mesmo momento em que Bruxelas ajusta a meta de 2035 para os novos carros, reduzindo de 100% para 90% a quota obrigatória de veículos zero emissões, mas compensando esse abrandamento com medidas adicionais para reforçar a mobilidade elétrica.

Entre essas medidas contam‑se supercréditos para pequenos elétricos produzidos na UE, financiamento reforçado a fabricantes de baterias europeus e uma estratégia industrial orientada para garantir que a transição não entrega o mercado de massas a marcas extraeuropeias.​

Neste contexto, um e‑car como o BEN, concebido em Portugal e com planos de produção descentralizada em vários pontos da Europa até 2030, ganha peso simbólico e económico: mostra que os pequenos e‑car podem ser desenhados e industrializados na própria Europa, ligando o Green Deal, o PRR e a nova política automóvel a projetos concretos no terreno.​

Mobilidade de serviço e cidades neutras em carbono

A agenda europeia para a mobilidade sustentável prevê 100 cidades neutras em carbono até 2030, com forte aposta em soluções de transporte partilhado, elétrico e digitalizado.

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O modelo de e‑car serviço por detrás do BEN – com chave digital partilhada, integração em plataformas de dados e contador de emissões evitadas em tempo real – responde diretamente a essa prioridade, permitindo a municípios e operadores testar serviços de mobilidade elétricos com métricas claras de impacto climático.​

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