O CEO da Volvo Cars, Håkan Samuelsson, apelou esta quinta-feira à União Europeia para que reduza ou elimine as tarifas aplicadas à importação de automóveis fabricados nos Estados Unidos, classificando-as como “absolutamente desnecessárias” e afirmando que o setor automóvel europeu não precisa de proteção face aos concorrentes americanos.
Neste artigo:
Objetivo é evitar retaliação
Em declarações à agência Reuters, após a divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre, o executivo defendeu uma postura proativa por parte de Bruxelas para evitar retaliações comerciais por parte do governo norte-americano, liderado por Donald Trump.
Atualmente, a União Europeia aplica uma tarifa de 10% sobre carros importados dos EUA, enquanto os Estados Unidos impõem 27,5% sobre viaturas europeias — taxa que Trump pretende aumentar para 30% a partir de 1 de agosto de 2025, caso não seja alcançado um novo entendimento comercial entre as partes. “Se a Europa realmente acredita no livre comércio, deveria ser a primeira a reduzir tarifas para valores muito baixos,” afirmou Samuelsson.
Volvo sob pressão nos Estados Unidos
A Volvo Cars está entre os fabricantes europeus mais expostos às tarifas dos EUA, uma vez que a maior parte dos veículos vendidos naquele país é produzida em fábricas europeias e enviada por via marítima. Para mitigar o impacto, o grupo anunciou que irá iniciar a produção local do modelo híbrido XC60 nos Estados Unidos em 2026, juntando-se à atual linha de produção da Polestar 3 e do elétrico EX90 na unidade de Charleston, Carolina do Sul.
No entanto, o EX90 continua a enfrentar dificuldades de aceitação por parte dos consumidores norte-americanos, o que levou a Volvo a reduzir a gama de modelos comercializados naquele mercado, incluindo ajustes no portefólio e corte de versões pouco rentáveis. “Estas são as decisões que podemos controlar diretamente. No que toca às tarifas, só podemos ter opinião como qualquer outro interveniente,” comentou o CEO.
Defesa do comércio livre e da competitividade europeia
Nas mesmas declarações, Samuelsson reiterou que a indústria automóvel europeia não carece de medidas protecionistas para competir com as marcas norte-americanas, defendendo que as empresas do continente possuem capacidade tecnológica, oferta variada e relevância comercial suficientes para enfrentar os desafios do mercado global. “Não há necessidade de termos proteção contra fabricantes dos EUA — isso só cria fricções desnecessárias,” declarou.
A posição do CEO da Volvo vem reforçar a pressão exercida por diversos grupos industriais junto das instituições europeias, que têm mantido negociações com Washington para reduzir ou equilibrar as taxas alfandegárias aplicadas de parte a parte. Até ao momento, os progressos têm sido limitados, com o governo norte-americano a manter o plano de aumentar os direitos aduaneiros como forma de defesa da produção interna.
Crescente tensão comercial
A ameaça de aumento das tarifas insere-se num contexto de crescentes tensões comerciais entre Estados Unidos e União Europeia, com repercussões diretas sobre o setor automóvel, que representa uma parte significativa das exportações europeias. Antes da administração Trump, a tarifa aplicada pelos EUA era de apenas 2,5%, mas foi progressivamente elevada como medida de proteção.
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Para marcas como a Volvo — atualmente sob controlo acionista maioritário da chinesa Geely —, estas medidas representam um risco acrescido para a sustentabilidade do negócio nos Estados Unidos, obrigando a reformulações logísticas, produtivas e comerciais. Além da produção local, o grupo poderá rever também a sua estratégia de eletrificação e preços, caso os custos de importação afetem a competitividade das gamas elétricas no mercado norte-americano.