Os 2.200 apoios para ligeiros 100% elétricos de particulares desapareceram no próprio dia em que abriram as candidaturas. O governo já anunciou um novo incentivo para o início de 2026.
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Cheques para elétricos voaram em poucas horas
O filme já era conhecido, mas neste último aviso ganhou outra escala: no dia em que abriram as candidaturas, os cheques de 4.000 euros para ligeiros 100% elétricos de pessoas singulares voaram em poucas horas.
A tabela oficial do Fundo Ambiental mostra que foram candidatados 2.214 veículos e 2.201 foram considerados elegíveis, sendo que o máximo de apoios era de 2.200. A tipologia ficou esgotada apenas duas horas depois de ter aberto o aviso para o incentivo à compra de carros elétricos.

Na prática, quem chegou ao aviso a meio do dia já só pôde espreitar pela frincha da porta. Demorou apenas duas horas até se atingir o máximo de candidaturas apoiadas pelo Fundo Ambiental.
E isso diz tanto sobre a pressão em torno do programa, como sobre a maturidade do mercado de elétricos: há cada vez mais gente preparada para comprar, com ou sem cheque, mas que não dispensa o incentivo se o conseguir apanhar.
Governo acelera novo incentivo para 2026
Perante este esgotar quase instantâneo, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, admitiu à Renascença que o Governo não pode ficar à espera do próximo Orçamento para voltar a apoiar a compra de carros elétricos. “O Governo prevê lançar um novo programa de apoio à compra de carros elétricos em 2026” e espera ter “em janeiro […] mais uma autorização para abrir uma outra fase destes veículos elétricos”, afirmou a governante.

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A ministra explicou que está já em preparação um novo aviso com uma dotação de 17,6 milhões deste programa. A ideia é simples: se o mercado está disposto a avançar, o Estado quer continuar a pôr dinheiro em cima da mesa.
Apoio chega a poucos
O apoio à compra de carros elétricos de 4.000 euros estava disponível para apenas 2.200 candidaturas.
Este número é claramente insuficiente se olharmos para o volume de automóveis 100% elétricos comprados em 2025. Só em novembro deste ano, os números da ACAP revelam terem sido vendidos 5.805 carros elétricos novos.

Contudo, nas palavras da ministra, “se apoiamos mais por cada veículo, vamos apoiar menos pessoas. Como temos tido muito boa adesão e imediata, pensamos que já é uma ajuda para as pessoas os 4 mil euros. Portanto, vamos continuar. Deste modo, conseguimos chegar a mais pessoas. No dia em que não for suficiente e que não haja adesão, pois aí reconsideraremos. Mas, até agora, a adesão é em todos os programas”,
Os números que explicam a “corrida” aos apoios
Os dados completos do Fundo Ambiental mostram bem como o facto de o aviso abranger as compras feitas a partir de 1 de janeiro fez o incentivo esgotar rapidamente, e não apenas nos automóveis.
Nos ligeiros 100% elétricos – pessoa singular, o limite de 2.200 apoios está esgotado, com 2.201 candidaturas elegíveis, traduzindo a tal “corrida” às primeiras horas do aviso.
Nas bicicletas elétricas, a história repete‑se: 3.770 candidaturas, 3.750 elegíveis, 3.750 vagas ocupadas, 0 apoios disponíveis. O mesmo acontece com motociclos e ciclomotores, outros dispositivos de mobilidade pessoal elétricos e bicicletas convencionais, todas as tipologias no limite do plafond.
Só as IPSS e autarquias (54 veículos elegíveis para 500 vagas) e bicicletas de carga (638 elegíveis para 800 vagas) mostram que ainda há espaço para crescer em segmentos mais “profissionais” e institucionais.
O que 2025 ensinou: apoio ajuda, mas não é decisivo
Se há lição clara deste aviso de 2025–2026 é que o apoio deixou de ser o fator decisivo para comprar um carro elétrico. Muitos dos que se candidataram já tinham o elétrico encomendado, ou até comprado, antes da abertura das candidaturas, precisamente porque o programa permite apoiar aquisições feitas desde o início do ano.
O cheque funciona hoje mais como um prémio de oportunidade do que como a condição para dar o salto: quem quer mesmo um elétrico já não fica parado à espera do Fundo Ambiental, mas organiza‑se para tentar aproveitar o incentivo quando ele aparece.
Para o próximo programa, o desafio não é convencer os portugueses a aderirem à mobilidade elétrica, é garantir que um mecanismo pensado para acelerar a transição não se transforma apenas numa corrida de milésimos de segundo ao servidor.
Um longo caminho pela frente
Nas declarações que prestou à Renascença, Maria da Graça Carvalho sublinhou que Portugal tem ainda um longo caminho pela frente, apesar de os portugueses estarem a aderir cada vez mais à mobilidade elétrica.
“Somos um dos países da Europa com carros com maior tempo de média. Portanto, ainda temos um parque automóvel muito antigo, o que se traduz em muitas emissões. Nós temos ainda só cerca menos de 6% dos carros ligeiros que são elétricos, embora estejamos a aumentar muito”.
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“Este foi o ano em que mais se venderam carros elétricos”, sublinhou. “Portanto, esta percentagem vai continuar a aumentar. Mas, ainda é um número pequeno. Temos todo um passado não elétrico que nos vai ser difícil mudar de um momento para o outro, tendo especialmente em conta que é um país que não tem um poder de compra muito elevado, como outros países do centro e do norte da Europa”.





