O Firefly O Firefly

Firefly: urbano e familiar

A review do EVMag ao Firefly: um urbano que é aposta ganha.

Firefly é a sub-marca da NIO criada a pensar no mercado e nos gostos europeus. E, pelo que nos diz respeito, é aposta ganha.

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O design tem destas coisas: as fotos dizem-nos que o Dongfex Box é uma má cópia do Smart ForFour, mas colocados lado-a-lado, descobrimos que tal está longe de corresponder à verdade. E apesar de não ter sido possível uma comparação direta com o Honda e, a verdade é que, ao vivo, é absolutamente claro que o Firefly também está a milhas do design da (falhada) proposta japonesa.

O Firefly
O Firefly tem um desenho exterior original @Firefly

O primeiro impacto quando vemos o Firefly ao vivo é mesmo esse – estamos na presença de um desenho exterior original e, pelo menos para o meu gosto, bastante inspirado. Quando vi as primeiras fotos deste EV, a imagem de marca dos grupos óticos com 3 círculos, que se repetem também atrás, teve em mim um “efeito Coca-Cola”: primeiro estranha-se, depois entranha-se. Mas, ao vivo, atrevo-me a dizer a estranheza é menor, embora isso possa ter a ver com o facto de eu já estar na fase do “entranha-se”!

Contudo, é dentro do carro que ficamos rendidos. Embora o Firefly tenha basicamente o mesmo comprimento de um Renault 5 E-Tech (4,003m contra 3,922m, ou seja, apenas mais 81mm), o espaço interior, à falta de melhor expressão “não tem nada a ver”.

Urbano com espaço para cinco

É a constatação do imenso espaço interior que justifica o título deste test drive (na realidade, um curto contacto dinâmico, uma vez que não pude conduzir o carro durante muito tempo) e que custa a acreditar quando comparado com veículos do mesmo segmento e dimensões exteriores semelhantes.

Mais: a habitabilidade do carro não é alcançada à custa de compromissos ao nível do espaço para as bagagens, pelo contrário! O volume da bagageira é dos maiores deste segmento (404 litros), mas temos ainda direito ao maior frunk da indústria automóvel num carro deste tamanho, com 92 litros.

Como se isso não bastasse, temos ainda um porta-luvas de grandes dimensões e encontramos espaço para pequenos volumes sob o banco do “pendura” (apenas na versão base, inexistente na versão Comfort devido ao facto dos bancos serem aquecidos) e debaixo dos bancos traseiros – funcionalidades normalmente apenas encontradas em veículos familiares e mais polivalentes.

Mas, voltando ao espaço interior, onde este carro se diferencia perante o já referido Renault 5 E-Tech é na habitabilidade atrás. Enquanto o EV francês oferece um espaço bastante acanhado para três pessoas, o Firefly permite viagens grandes sem qualquer incómodo para três adultos.

O espaço oferecido é generoso em três dimensões: em largura, no espaço para os bancos da frente (excelente, e com espaço para colocarmos os pés sob os bancos dianteiros) e, muito importante em termos de conforto durante viagens longas, na altura do banco relativamente ao piso, que no Renault obriga as pernas a um ângulo agudo e a ficarmos “com os joelhos na boca”.

O espaço para pernas no Firefly é bom
O Firefly tem espaço para as pernas e uma boa altura dos bancos @António Eduardo Marques / EVMag

Qualidade de construção e acabamentos

Outro aspeto onde o Firefly brilha é na qualidade de construção geral, que as 5 estrelas do crash test da EuroNCAP já deixavam antever. Mas essa qualidade de construção é complementada da melhor forma por um interior igualmente muito bem conseguido, não só ao nível do design, como dos materiais escolhidos.

Encontramos materiais macios em todo o tablier, mas também nas portas e no volante, com acabamentos de excelente nível. Em termos de controlos, a Firefly optou por um minimalismo contido, com muito poucos controlos físicos (além das duas habituais manetes na coluna do volante e de controlos no próprio volante), mas com dois ecrãs – um painel atrás do volante com as informações básicas, que para mim continua a ser 100% essencial, e um ecrã maior com os restantes controlos e funcionalidade multimédia.

Este último é extremamente responsivo e permite um razoável grau de personalização, nomeadamente com a colocação de atalhos para desligar os inúmeros avisos de assistência à condução que a União Europeia obriga a que estejam ligados por default. Há também suporte para Apple Car Play já implementado, com Android Auto prometido através de uma atualização de firmware para breve.

Ao volante

Como já referi acima, tive muito pouco tempo para fazer um teste dinâmico com o Firefly. No entanto, alguns quilómetros em auto-estrada, estrada e cidade permitem concluir pelo excelente comportamento do veículo.

Temos os habituais modos de condução, desde o mais económico ao mais desportivo, e o carro permite igualmente definir vários graus de regeneração, incluindo modo de condução com um pedal, que eu prefiro, e que está aqui bem implementada, nomeadamente através da suavidade da travagem.

ecrã do Firefly
O Firefly permite alguma customização @António Eduardo Maaques / EVMag

Apesar da tração traseira deixar antever alguma desportividade na condução, não é isso que temos na prática, com o Firefly a convidar sobretudo a viagens mais calmas. A potência e o binário estão lá quando deles precisamos, mas neste caso concreto tenho dois padrões (o meu BMW i3 e o Renault 5 E-Tech que conduzi durante uma semana há uns meses) que oferecem sensações de condução bem melhores.

No entanto, em termos de conforto, a suspensão (multilink) é das melhores que já experienciei em termos de oferecer um excelente compromisso entre comportamento em estrada e conforto. Além disso, para condução urbana, este carro tem também um truque na manga de que eu gosto particularmente – um diâmetro de viragem extremamente curto, de apenas 9,4m.

A câmara traseira do Firefly
O Firefly tem uma câmara traseira que projeta a imagem no ecrã principal @António Eduardo Marques / EVMag

O carro possui excelente visibilidade em todas as direções, e oferece ainda câmara traseira no topo do tejadilho que projeta uma imagem do que se passa atrás de nós no ecrã principal (o espelho retrovisor é mesmo só espelho, não tem dupla função) e câmaras laterais que mostram uma imagem do ângulo morto sempre que se liga o pisca para qualquer um dos lados.

Equilíbrio elétrico

Em termos do grupo motriz elétrico, este Firefly não deslumbra, mas também não desaponta. A bateria de 42,1 kWh é uma unidade de química LFP com uma capacidade efetivamente usável de 41,2 kWh, e que é a mesma em qualquer uma das duas versões disponíveis, que só diferem no nível do equipamento.

Este valor, cruzado com consumos médios da ordem dos 14 kW/100 km, oferece uma autonomia da ordem dos 300 quilómetros – um pouco menos em “estrada aberta” e mais próximo dos 400 quilómetros em circuito urbano.

Casak coloca uma bicicleta dobrada na bagageira do firefly
O Firefly é um urbano famniliar @Firefly

São valores que me parecem perfeitamente razoáveis para um EV de vocação urbana, embora menos interessantes para uma utilização como um “familiar”. Uma vez mais, surge a comparação com o Renault 5 E-Tech, cuja versão base tem uma bateria de capacidade semelhante (40 kWh), mas que está disponível com uma unidade maior, de 52 kWh.

Tal como a proposta francesa, o Firefly também dispõe de capacidade VL2 (saída máxima de 3,7 kW) e velocidades de carregamento razoáveis face ao tipo de utilização e dimensão da bateria, com carregamento DC de 100 kW. Contudo, o suporte para carregamento AC trifásico (11 kW) no caso do Firefly é opcional, pese embora seja uma opção de custo razoável (211€ + IVA).

Versões, opções e preços

Vejo muita gente a cascar no preço do Firefly, comparando-o com o Renault 5 E-Tech. Compreendo, mas sinceramente acho o preço competitivo, e dentro do que estava à espera – o primeiro mercado a comercializar o carro foi o dos Países Baixos, com um preço de 29.900€, semelhante ao praticado em Portugal.

É verdade que o EV francês pode ser adquirido com uma bateria de capacidade superior, capaz de maior autonomia, mas numa comparação direta, o Firefly é “mais carro”. Para quem ande sempre sozinho e/ou com um passageiro ao lado, a proposta francesa fará certamente mais sentido, mas o pacote oferecido pelo carro chinês é superior em todos os outros aspetos. Uma escolha entre ambos dependerá sobretudo do tipo de utilização.

Uma palavra para as versões disponíveis e para a lista de opções. Há apenas duas versões, com pouca diferença de preço entre si… e também poucas diferenças em termos do que oferecem. O essencial é comum a ambas, desde o sistema elétrico (potência, capacidade da bateria, carregamento, etc.) ao sistema de som (de excelente qualidade, com 14 colunas), passando pelas câmaras, sistemas de ajuda à condução e estacionamento automático.

A cor incluída no preço é a “lavanda” (não metalizada), mas na lista de opções descobrimos que qualquer outra cor custa apenas mais 445€, um valor relativamente baixo face ao habitual na indústria.

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Conclusão

Gostei muito do Firefly. O carro transpira qualidade, é muito equilibrado e surpreendentemente espaçoso.

O preço não me parece desajustado face ao que é oferecido e, quanto à autonomia, é algo que será cada vez menos relevante à medida que o tempo passa e a rede de carregamento se expande. O Firefly Select (versão base) é comercializado por 29.900€.

  1. Dar 30 mil euros por um carro pequeno quando tenho um Tesla model 3 por 35 mil euros faz pensar. E muito. para isso existe o o citroen eC3 por 25 mil euros. Bem sei com menos equipamento.

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