Pequim prepara-se para atuar para pôr fim à prática da venda de “carros usados zero quilómetros”, uma estratégia usada pelos construtores chineses para escoar inventário e inflacionar dados de vendas.
Neste artigo:
Diário do Povo quer mais rigor
O jornal estatal Diário do Povo, conhecido por refletir as posições oficiais do Partido Comunista Chinês no poder, pediu uma ação regulatória mais rigorosa para acabar com esta prática, que tem afetado a indústria automóvel e o mercado como um todo.
O conceito de “carro usado zero quilómetros” tornou-se comum entre fabricantes chineses, permitindo-lhes comercializar veículos novos com grandes descontos ao registá-los previamente como usados. Embora esta estratégia ajude a limpar stocks acumulados, analistas e autoridades sublinham que prejudica a estabilidade do setor.
Recentemente, o Ministério do Comércio chinês reuniu-se com fabricantes para discutir possíveis soluções. O presidente de desses fabricantes, a Great Wall Motor, Wei Jianjun, condenou abertamente a prática.
“Carros usados zero quilómetros” perturbam o mercado
Segundo o Diário do Povo, o impacto desta prática vai além da simples manipulação de números. “Este tipo disfarçado de corte de preços perturba a ordem do mercado e reflete o fenómeno da ‘involução’ da indústria automóvel”, afirmou o jornal, referindo-se ao termo que, na China, descreve um ciclo de competição excessiva e insustentável.
A crescente guerra de preços no setor automóvel chinês tem sido intensificada por diversos fatores, incluindo um consumo interno em queda e uma sobrecapacidade de produção, que obriga os fabricantes a recorrer a táticas agressivas para atingir metas de vendas. Além disso, a economia da China enfrenta desafios adicionais, como a pressão inflacionária e os efeitos das tarifas impostas pelos EUA.
Consumidores também afetados
Os impactos negativos desta estratégia afetam tanto fabricantes como consumidores. Segundo o Diário do Povo, ao vender carros novos como usados, as marcas comprimem margens de lucro, aumentam perdas e reduzem investimentos em inovação e qualidade.
Por outro lado, os compradores podem enfrentar problemas como perda de benefícios de primeiro proprietário, degradação prematura da bateria em veículos elétricos e maior depreciação na revenda. Ao comprar um “carro usado zero quilómetros”, o consumidor não sabe há quanto tempo o automóvel foi fabricado e poderá perder o direito à garantia.
Foco na inovação e tecnologia
A Reuters afirma que o jornal estatal enfatizou que os fabricantes de veículos elétricos devem abandonar a obsessão por números de vendas e focar-se na inovação tecnológica e na qualidade dos produtos. Embora não tenha citado nomes específicos, esta crítica sugere uma crescente preocupação com o impacto da concorrência no setor.
Como solução, o Diário do Povo propõe medidas para evitar a venda de “carros usados zero quilómetros”, incluindo um reforço na supervisão do registo de veículos usados, o estabelecimento de um sistema de rastreamento do ciclo de vida dos automóveis e o controlo rigoroso da revenda imediata após o registo.
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A política de “carro usado zero quilómetro” é uma das razões pela qual os meios de comunicação chineses noticiam não apenas o número de automóveis que cada marca matriculou, mas também o número de novos seguros automóveis no país.