Polo a Polo Polo a Polo

Julie e Chris foram de Polo a Polo num Nissan Ariya elétrico

Julie e Chris Ramsey foram os primeiros a viajar de Polo a Polo de automóvel. Partiram do Polo Norte magnético 1823 e chegaram ao Polo Sul 10 meses depois.

Veículo elétrico é o primeiro a viajar de Polo a Polo

Têm o verbo fácil de quem coleciona muitos episódios de aventuras e o olhar confiante de quem sonha e supera obstáculos. O casal tornou-se em dezembro nos primeiros a ligarem os pólos numa viagem de automóvel.

E fizeram-no a bordo de um automóvel totalmente elétrico, juntando às dificuldades do percurso os desafios que a mobilidade elétrica coloca nas zonas mais inóspitas do planeta.

Viajantes experimentados

Esta não foi a primeira vez que Julie e Chris levaram ao limite um automóvel elétrico. Já antes, e a bordo do seu Nissan Leaf, tinham feito os 17.000 km do Rally da Mongólia, ligando Londres áquele país asiático.

“A Nissan fabrica carros fortes. Mesmo quando fizemos os 17.000 entre Londres e a Mongólia num Nissan Leaf de 30 kWh, o carro não teve qualquer problema, apenas um furo”, conta Julie Ramsey ao EV Mag.

Polo a Polo
Julie e Chris Ramsey estiveram no Salão do Automóvel Híbrido e Elétrico, onde falaram com o EV Mag @EV Mag

O casal esteve presente no Salão do Automóvel Híbrido e Elétrico que decorreu este fim-de-semana na Alfândega do Porto e lembrou a sua aventura numa conversa com o EV Mag.

7 anos de preparação

A viagem de Polo a Polo demorou 7 anos a ser preparada e “quando batemos à porta da Nissan pela primeira vez, eles ainda não tinham um veículo que pudesse aguentar a viagem. Nessa perspetiva, tivemos de ir bater a outras portas, mas as pessoas não se sentiam tão confiantes,” lembra Chris.

Foi então que a Nissan voltou à equação, com o lançamento do Ariya. Crhis falou com um executivo da marca nipónica e “num par de semanas deram-nos a resposta: ‘vamos avançar, acreditamos no que estão a fazer’.

Nissan correu “risco enorme”

O Nissan Ariya é o outro protagonista desta aventura. O automóvel tinha acabado de ser lançado e o casal recebeu uma das primeiras unidades do mercado. “Confiarem-nos o EV foi um enorme risco que correram. O seu lema é ‘ousar o que os outros não tentaram’ e acho que fizeram jus, porque nem todos os construtores teriam a confiança para o fazer”.

Porque o que o casal propunha era algo que nunca tinha sido feito. Nunca nos 138 anos da história automóvel, um carro ligara os dois Polos. E Julie e Chris queriam fazer a tentativa num automóvel 100% elétrico.

Ainda antes da partida para a viagem de Polo a Polo, Julie e Chris testam o Nissan Ariya nos difíceis terrenos da Islândia

Modelo de produção com poucas modificações

O carro que os levou nesta aventura de Polo a Polo era basicamente um modelo de produção. A eletrónica, a bateria e o motor eram os de produção e as únicas alterações foram o reforço do chão do veículo, suspensão elevada e pneus de neve de 39 polegadas.

O carro foi ainda modificado para conter uma estação meteorológica e uma máquina de café, porque mesmo nas maiores aventuras um mimo de vez em quando é o combustível para continuar.

Carro levado aos “extremos” na viagem Polo a Polo

“Levámos o automóvel aos extremos, tanto no Ártico como na Antártida, mas principalmente no Ártico, onde tivemos temperaturas de -39 graus durante vários dias”.

“O meu principal medo era a eletrónica, porque se falhasse não tínhamos como a reparar. Mas nada aconteceu.”.

Nos pólos, Chris e Julie tinham equipas de apoio da Artic Trucks, especialistas em expedições polares que foram quem também preparou o carro e o testou na Islândia.

O apoio da Artic Trucks

Mas foi no Ártico a única situação em que o apoio da Artic Trucks se revelou fundamental, como conta Chris Ramsey:

Polo a Polo
A expedição teve o apoio a Artic Trucks nas etapas polares @Instagram poletopoleev

“No Ártico passámos por uma neve profunda e espessa e, por baixo da neve, estava escondida uma rocha. Quando batemos na rocha, cortámos a direção do carro. A equipa de suporte tinha uma série de peças sobresselentes e por isso reparámos essa peça. E depois partimos novamente”.

“Fico muito contente por todas as outras peças sobresselentes do Ártico e as da Antártida terem voltado connosco e nunca terem sido utilizadas”.

O desafio de carregar nos Polos

Um desafio nas regiões polares foi o carregar o automóvel de energia, tanto mais que por causa das modificações, a autonomia desceu de 480 km para 240 km.

A expedição de Polo a Polo tinha consigo painéis solares e um protótipo de um eólica portátil. Tinham ainda um gerador como segurança.

“No norte, levámos connosco uma turbina eólica de 5 kW para aproveitar a energia do vento e carregar o carro e um conjunto de painéis solares para carregar também o transformador, por isso temos um sistema integrado. É tudo renovável com o gerador para carregar o carro e foi um protótipo”.

Um sistema integrado

“Nos pólos, a única fonte de energia fiável que podíamos utilizar para carregar o carro era um gerador a gasolina de 7 kW, mas não queríamos utilizar apenas combustível. Queríamos experimentar as energias renováveis. Também queríamos experimentar as energias renováveis e ver qual seria o seu desempenho”, conta Julie .

Polo
A expedição Polo a Polo no final da aventura @instagram poletopoleev

“Foi a primeira vez que tentamos isto e funcionou, não para carregar o carro na totalidade, mas foi um bom teste. Se tivessemos mais tempo e mais painéis teríamos carregado o carro usando apenas energias renováveis, mas foi um bom teste”.

Pelas américas com a criatividade necessária

A expedição de Polo a Polo teve os maiores desafios nas regiões polares, no início e no final da viagem. Mas a partir do Canadá, o casal oriundo da Escócia viajou a solo. “Deixámos tudo. Fomos só eu,o Chris e o carro”, diz Julie com um sorriso.

Atravessaram as américas recorrendo à rede pública de carregamento e, quando ela faltava, sendo criativos e “confiar na amabilidade de estranhos para carregar. Hotéis, bombas de gasolina, oficinas, concessionários da Nissan… onde houvesse um edifício com a tomada certa, parávamos e carregávamos o carro”, conta.

“Aconteceu chegarmos a um concessionário Nissan às 3 da manhã, pormos o carro a carregar e os mecânicos chegarem de manhã e encontrarem o carro a carregar connosco na tenda a dormir”, diz Chris.

“Veículos elétricos dão outra dimensão às viagens”

Julie sublinha que na expedição Polo a Polo, “os desconhecidos que fomos encontrando e que já não o são esforçaram-se muito para nos ajudar. Houve um caso, no Canadá, em que a oficina não tinha a tomada certa para podermos carregar o carro e ele mudou a tomada para que o pudéssemos fazer”.

“Ficámos lá 7 horas enquanto o carro carregava, a conversar, a contar histórias, a comer e a rir muito”, recorda.

O vídeo com a Nissan assinalou a conclusão da viagem de Polo a Polo

Julie não tem dúvidas de que “os veículos elétricos dão outra dimensão às viagens, uma nova experiência. Se gostas de pessoas, os Evs possibilitam-te experiências que não terias num carro a gasolina, em que abasteces numa estação de serviço e segues viagem”.

O carro elétrico gosta de calor

Numa viagem de Polo a Polo os aventureiros tiveram uma experiência única de condução elétrica, levando o Nissan Ariya por alguns dos caminhos mais extremos, desde as temperaturas negativas polares até às altas montanhas andinas.

“Obviamente, nas regiões mais frias, o desempenho é prejudicados. Tudo abranda, o carro carrega mais devagar e a autonomia é menor.

Mas, assim que chegámos ao Arizona e a Phoenix, onde tivemos temperaturas de 49 graus, vimos que o carro adora o calor, fica com mais autonomia e carrega mais depressa.

Nas montanhas dos Andes

Quase a terminar a conversa com o EV Mag, Chris avança com outra vantagem dos automóveis elétricos, que foi particularmente visível quando ultrapassavam as grandes montanhas dos Andes.

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“Num carro a combustível fóssil isso seria impossível, mas usámos 8% da energia a subir a montanha e depois na descida recuperámos 5% graças à travagem regenerativa”.

“Do Equador para o Peru, fizemos a etapa mais longa de 328 quilómetros, quando a autonomia realista era de 240 km, devido ao sistema de travagem regenerativa”.

O nascer do sol que se tornou um sorriso

Julie e Chris batizaram o Nissan Ariya com que fizeram a viagem de Polo a Polo com o onírico nome de Sunrise, o nascer do Sol.

Polo a Polo
O Nissan Ariya foi batizado pelos aventureiros @instagram poletopoleev

Mas à medida que iam descendo as américas, que atravessavam o Canadá e os Estados Unidos e rumavam pela América Central e pelos Andes sempre em direção a sul, iam vendo a reação que o Nissan Ariya de grandes pneus e o nome da aventura gravado provocava nas pessoas.

Foi assim que decidiram que o nome correto para o automóvel seria Sonrisa, a palavra espanhola para sorriso. Foi assim que Sunrise virou Sonrisa, que o nascer do Sol se tornou um sorriso.

Um final feliz

Chris e Julie Ramsey alcançaram o Polo Sul a 15 de dezembro, 10 meses após partirem do Polo Norte magnético 1863, e mais de 30 mil quilómetros depois de começarem a primeira viagem automóvel da história de Polo a Polo.

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No Polo Sul com a bandeira da expedição @Instagram poletopoleev

No Polo Sul, o casal escocês ergueu a bandeira da expedição desenhada por uma criança, antes de rumar ao campo-base.

No Instagram, Julie e Chris Ramsey assinalam o final da expedição de Polo a Polo, com estas palavras:

“Esperamos ter inspirado e educado muitos de vós sobre as verdades da mobilidade eléctrica e desmascarado os mitos comuns que ainda existem em torno dos EVs. Os EVs são capazes, são divertidos e emocionantes de conduzir, são fiáveis e resistentes e, mais importante ainda, são mais simpáticos para o nosso planeta.”

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