À data em que escrevo estas linhas, nunca vi um Leapmotor T03 na estrada e, sinceramente, não entendo a razão. Este é um excelente carro cuja relação qualidade/preço não tem concorrência.
Neste artigo:
O melhor por menos de 20.000€
O EV mais barato do mercado – supostamente – é o Dacia Spring. Mas, na verdade, não é. É o Leapmotor T03. Porque a versão do Spring com especificações “decentes” (Electric 65 Extreme) é mais cara (custa 19.900€) e, mesmo assim, não chega aos calcanhares do que o Leapmotor T03 oferece… por menos do que isso.
E ainda nem sequer chegámos ao “teste da porta”: se está no mercado à procura de um EV por novo por menos de 20 mil euros, desafio-o(a) a fazer a seguinte experiência: abra e feche a porta do condutor do T03 e, depois faça o mesmo com o Spring. Como costuma dizer um amigo meu, é como comparar a obra-prima do mestre com a prima do mestre d’obras…
Quem é a leapmotor?
Mas, agora que me adiantei, voltemos um pouco atrás: quem é a Leapmotor e, em especial, o que é T03? Fundada há menos de 10 anos, a Leapmotor é uma das mais jovens fabricantes de EVs chinesas; contudo, ao contrário de muitas outras empresas do setor, o seu futuro parece estar garantido graças a parcerias internacionais de que o T03 é um excelente exemplo: em 2023, a Stellantis comprou 20% do capital da empresa. Quanto a este carro em particular, começou a ser produzido numa fábrica da Polónia, numa joint-venture 51%-49% entre a Stellantis e a Leapmotor. Infelizmente, a atual situação tarifária entre a União Europeia e a China levou à suspensão da produção nessa fábrica em abril passado.
Quanto ao carro em si, admito que as minhas expetativas não eram elevadas, mas depois do teste drive que realizei ao longo de uma semana em que troquei o meu BMW i3 pelo Leapmotor T03, confesso que fiquei bastante (bem) impressionado.
Virtudes do Leapmotor T03
E o que mais impressiona é que nunca sentimos que não estamos dentro de um EV digno do nome. Quero eu dizer com isto que, ao contrário do que já ouvi e li por aí, o T03 é um CARRO, não é um quadriciclo pesado; e em nenhum momento sentimos que estamos a conduzir algo que não seja um “um carro como deve ser”.
Pode parecer que estou a colocar a fasquia muito em baixo, mas se o faço é para deixar absolutamente claro que tudo no Leapmotor T03 sugere qualidade de construção (sempre tendo em consideração o baixo preço do veículo) e, até, cuidado nos detalhes.
Aquilo que mais me agrada no projeto em si é a decisão da Leapmotor (e, provavelmente, também da Stellantis) de criar uma só versão deste veículo: a única opção é a pintura metalizada; tudo o resto é de série. Temos uma só opção de bateria (bem maior que a maior bateria do Dacia Spring), carregamento DC, jantes de liga leve, tejadilho panorâmico em vidro (fixo) com persiana comandada eletricamente, luzes de circulação diurna LED, câmara traseira e quatro verdadeiros lugares.
Há detalhes verdadeiramente surpreendentes, como o tecido nos encostos de braços dos bancos dianteiros, ou o prático suporte de copos entre os bancos dianteiros que inclui uma ranhura para colocar o smartphone, duas portas USB e uma tomada de isqueiro de 12 volts.
Além disso, o carro possui um conjunto bastante completo de sistemas de auxílio à condução, incluindo um extremamente funcional sistema de cruise-control adaptativo.
Finalmente, existe uma app para controlo e monitorização do carro à distância (não testada, porque o carro que me foi emprestado estava já atribuído a outra conta) e, na chave do carro, encontramos botões para abertura do portão traseiro bem como um botão adicional que permite acionar a buzina e as luzes – útil para encontrarmos o carro no meio de um parque de estacionamento.
… e defeitos
Se quisermos encontrar defeitos no carro, descobrimos que nenhum deles será, para a maioria dos potenciais interessados, um “deal breaker”. O principal será, talvez, a estética. Mas, mesmo assim, as fotos deixam uma ideia que não corresponde inteiramente à verdade.
Os piores ângulos são aqueles em que vemos a parte frontal, onde deveria estar a “grelha” mas encontramos apenas a porta que dá acesso às tomadas de carregamento. Quando vi as primeiras fotos do carro achei que era “uma má cópia” da última geração do Smart ForFour. Contudo, tal não corresponde inteiramente à verdade, até porque o carro é maior do que o Smart (3620mm contra 3495mm) e, visto por trás e a ¾, tem um design próprio e razoavelmente distinto.
Se tentarmos encontrar semelhanças com outros modelos, encontrei-as em alguns ângulos quando comparamos o T03 com o Dongfeng Box.
Este é o “defeito” exterior; lá dentro, há outros detalhes que mostram aquilo que um amigo apelida de “inexperiência” da Leapmotor no fabrico de carros. Coisas como os reflexos excessivos dos ecrãs e o posicionamento demasiado baixo do ecrã central, com o qual alguns passageiros da frente poderão facilmente tocar com o joelho, se não optarem por estender as pernas.
Uma lacuna, e não propriamente um defeito, é a falta de suporte para Apple Car Play e/ou Android Auto. O carro tem um sistema de navegação por GPS integrado, cuja utilização é razoavelmente prática, mas… não é o Google Maps nem o Waze…
Condução elétrica
Na estrada ou, melhor dizendo, no circuito urbano, que é o seu habitat natural, o Leapmotor T03 faz-nos rapidamente esquecer as poucas lacunas e defeitos encontrados.
Não há múltiplos níveis de travagem regenerativa, sendo que notei apenas algumas diferenças em função do modo de condução ativado (Conforto, Standard ou Sport) mas aquele que está pré-programado funciona bem. Não existe “one pedal driving” mas, uma vez imobilizado, o carro mantém-se parado sem que seja necessário usar o pedal do travão – mesmo em terreno inclinado.
O carro é ágil (5 segundos bastam para alcançar a velocidade máxima em cidade), confortável e agradável de conduzir. O motor de 95 cavalos (70 kW) conjugado com a bateria de 37,3 kWh permite uma autonomia urbana (ciclo WLTP) de quase 400 quilómetros.
Mas o melhor é que a prática confirma os valores teóricos. Durante os dias em que andei com o carro, foi-me difícil fazer um consumo superior aos 10 kW/100 km. Primeiro, ainda achei que teria a ver com os meus (bons) hábitos transplantados do i3, mas já houve outros que confirmaram o bom desempenho desta máquina em termos de gasto de energia.
E isto consegue-se mesmo sem praticamente qualquer feedback do sistema do carro sobre a energia que está a ser gasta em tempo real.
Uma palavra para o carregamento DC de 45 kW integrado (uma opção de 600€ no Dacia Spring, e ainda assim de apenas 30 kW), que torna a utilização do carro mais prática no momento de recarregar o veículo.
Conclusão
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Entrei “de pé atrás” para este test drive, mas saí rendido. Não tenho dúvidas de que, neste momento, este é a proposta mais acessível – e, praticamente sem compromissos – para quem procura um EV novo no mercado português. Neste aspeto, o Leapmotor T03 não tem concorrência.
Para encontramos concorrência a este carro temos que procurar no mercado de usados. E, aí, tudo depende do que se pretende. Porque, por 19.000€, já se encontram propostas interessantes, como poucos anos e não muitos quilómetros.
Leapmotor T03
PVP: 19.000€