A indústria automóvel está a enfrentar um novo obstáculo na sua cadeia de abastecimento: as restrições impostas pela China na exportação de terras raras. Empresas e fornecedores estão em alerta máximo, temendo que a escassez desses componentes essenciais possa paralisar fábricas nos próximos meses.
Neste artigo:
“Pânico total”
Frank Eckard, CEO da empresa alemã de ímanes Magnosphere, revelou que tem recebido um número recorde de pedidos urgentes de fabricantes e fornecedores desesperados por alternativas. Alguns alertam que, sem uma solução rápida, poderão ter de interromper a produção já em julho. “A indústria automóvel está em pânico total. Estão dispostos a pagar qualquer preço,” afirmou Eckard à Reuters.
A China controla até 70% da mineração global de terras raras, 85% da capacidade de refinação e cerca de 90% da produção de ligas metálicas e ímanes de terras raras, afirma a consultora AlixPartners. Um veículo elétrico médio utiliza cerca de 500 gramas de elementos de terras raras, e um carro movido a combustível fóssil utiliza apenas metade disso, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
Crises sucedem-se
O problema surge num momento crítico para o setor, que já enfrentou grandes crises nos últimos anos. Primeiro, a escassez de semicondutores entre 2021 e 2023 reduziu drasticamente a produção global de veículos.
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Antes disso, a pandemia da COVID-19 levou ao encerramento temporário de fábricas, gerando graves perturbações na oferta e na procura.
Fabricantes procuram alternativas às terras raras
Os fabricantes de automóveis têm procurado formas de diversificar o fornecimento de ímanes e até desenvolver alternativas que não dependam de elementos de terras raras. No entanto, os avanços nessa área são ainda insuficientes para suprir a necessidade imediata do setor.
Empresas como General Motors e BMW, bem como fornecedores como ZF e BorgWarner, têm trabalhado em motores com reduzido teor de terras raras, mas a produção em larga escala e a redução de custos continuam a ser desafios.
A Niron, sediada em Minneapolis, desenvolveu ímanes livres de terras raras e angariou mais de 250 milhões de dólares de investidores, incluindo a GM, a Stellantis e a fornecedora de automóveis Magna.
“Temos assistido a uma mudança radical no interesse dos investidores e clientes” desde que os controlos de exportação da China entraram em vigor, disse o CEO Jonathan Rowntree. A empresa está a planear uma fábrica de mil milhões de dólares com início de produção previsto para 2029.
Construir reservas estratégicas
A União Europeia tenta responder a este problema com iniciativas como o Regulamento das Matérias-Primas Críticas, que visa fortalecer a produção de terras raras dentro do continente. Contudo, especialistas alertam que os esforços não estão a avançar com rapidez suficiente. A China continua a dominar o mercado global, controlando cerca de 90% da produção de ligas metálicas e ímanes de terras raras.
Enquanto procuram soluções a longo prazo, os fabricantes de automóveis procuram formas imediatas de mitigar os impactos da crise. Algumas marcas, como a Mercedes-Benz, já começaram a construir reservas estratégicas de ímanes para garantir a continuidade da produção. Em paralelo, analistas alertam que as empresas poderão ter de fabricar veículos sem determinados componentes e armazená-los até que os materiais estejam disponíveis, tal como aconteceu durante a crise dos semicondutores.
Dependência da China
A dependência global da China não se limita às terras raras. Um relatório recente da Comissão Europeia revelou que o país controla mais de 50% do fornecimento de 19 matérias-primas essenciais para a indústria, incluindo manganês, grafite e alumínio.
Com este novo alerta, os especialistas reforçam a necessidade urgente de desenvolver alternativas mais sustentáveis e reduzir a vulnerabilidade das cadeias de abastecimento internacionais.