Apesar do crescimento da mobilidade elétrica, persistem mitos que afastam muitos condutores da mudança. A verdade está nos dados, não nas suposições.
Neste artigo:
Os mitos são persistentes
A crescente aposta em veículos elétricos (EV) tem sido acompanhada por um fenómeno curioso: a persistência de ideias erradas que continuam a levantar dúvidas quanto à sua utilização no quotidiano. A verdade é que a maioria dos condutores está ainda pouco informada sobre os automóveis elétricos.
A falta de informação gera dúvidas legítimas e a desinformação faz o resto. Muitos dos mitos sobre automóveis elétricos estão ainda enraizados no discurso público — mesmo entre condutores com interesse real em transitar para um automóvel livre de emissões. Reunimos os 10 mais frequentes e desmontamo-los com base em dados técnicos, exemplos concretos e testemunhos especializados.
1. “São mais lentos que os carros a combustão”
Falso. Este é um dos mitos sem qualquer correspondência com a realidade. Os EV são tão ou mais rápidos do que os automóveis a combustão. Além disso, como a entrega do binário máximo é instantânea, têm aceleração superior aos automóveis a combustão.
Além disso, a colocação das baterias no piso da viatura melhora o centro de gravidade, contribuindo para um bom comportamento e a estabilidade dinâmica.
2. “É perigoso conduzi-los à chuva ou com trovoada”
Errado. Este é um dos mitos mais comuns e deve-se a uma junção que normalmente não augura nada de bom: a água e a eletricidade. Mas neste caso, não há problemas. Os sistemas elétricos estão selados e protegidos contra a água, cumprindo as mesmas (ou superiores) normas de estanquicidade dos veículos convencionais.
Assim sendo, é não apenas possível conduzir ou carregar um automóvel elétrico à chuva. O o britânico Office for Zero Emission Vehicles, citado pelo ACP, apenas recomenda que ao carregar se sigam as instruções do fabricante, se utilizem os cabos recomendados e se verifique se não estão danificados.
Além do mais, os automóveis elétricos podem ser lavados e mesmo ser colocados nas estações de lavagem automática. Dependendo das marcas, pode ser necessário colocar o veículo em modo de lavagem.
3. “Os carros elétricos são menos seguros”
Não é verdade. Os EV cumprem os mesmos testes de colisão e normas de segurança dos veículos a combustão. Estão ainda equipados com sistemas adicionais, como isolamento de alta voltagem, desligamento automático em caso de acidente e proteções contra incêndios.
Todos os estudos que têm sido publicados demonstram que os automóveis elétricos têm um menor risco de incêndio do que os automóveis a combustão.
4. “A bateria dura pouco e exige manutenção constante”
Falso. A questão das baterias é do que mais mitos cria. Os veículos elétricos têm menos peças móveis e menor desgaste. A vida das baterias já supera a vida útil dos automóveis.
Um estudo recente aponta para que o ciclo de vida das baterias está agora nos 20 anos, e há já marcas automóveis em Portugal a oferecer garantias de 1 milhão de quilómetros para as suas baterias. Manutenção preventiva simples e carregamentos controlados garantem longevidade equivalente (ou superior) à dos carros convencionais.
5. “Não servem para viagens longas”
Já não é o caso. A maioria dos EV modernos tem autonomias reais superiores a 400 km, com vários modelos a ultrapassarem os 600 km. A rede pública está em expansão, e os sistemas de navegação integram planeamento com paragens para carregamento rápido.
A ansiedade da autonomia é cada vez mais uma coisa do passado. A adaptação à necessidade de planeamento das viagens é cada vez mais fácil, não só pelo software cada vez mais presente nos veículos, mas também pela quantidade de postos
6. “Não é possível instalar um carregador em condomínios ou mudar de casa com ele”
Ambas as ideias são erradas. Hoje existem soluções técnicas para instalar wallboxes em garagens partilhadas, com contabilização individual, gestão por app e controlo de acessos.
E sim, os carregadores podem ser desinstalados e reinstalados por profissionais certificados quando se muda de casa.
7. “Carregar demora demasiado tempo”
Depende do tipo de carregador. Em postos rápidos, é possível obter 100 km de autonomia em menos de 10 minutos. Em casa, o carregamento é feito de forma cómoda durante a noite — e é mais barato, sobretudo com tarifa bi-horária.
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Nos postos públicos rápidos, a maioria dos novos modelos já permite carga dos 20% aos 80% em menos de meia-hora e a adoção da arquitetura de 800V, já presente em vários automóveis elétricos, diminui ainda mais o tempo e a velocidade de carregamento.
8. “Ainda há poucos postos de carregamento”
Não corresponde à realidade. A rede pública MOBI.E já conta com 6.329 postos em todo o país (números de final de maio de 2025), além de dezenas de operadores privados com soluções integradas. Hotéis, centros comerciais, parques de estacionamento e até restaurantes reforçam diariamente a infraestrutura.
Atualmente, existem em Portugal mais de 11.700 pontos de carregamento em todo o país e, destes, 38,2% são de potência rápida e ultrarrápida.
9. “São caros de abastecer e encarecem a fatura elétrica”
Não necessariamente. O carregamento doméstico pode ser até 3 vezes mais económico do que abastecer com combustíveis fósseis. Mesmo com o acréscimo na fatura da luz, o custo por quilómetro é, regra geral, mais baixo.
Segundo os dados do observatório da Mobilidade elétrica da UVE – Associação de Utentes de Veículos Elétricos, atualmente o custo de carregar um automóvel elétrico é sempre inferior ao que se paga por colocar combustível nos automóveis a gasolina ou gasóleo.
10. “Não se podem rebocar” / “Não podem ir à oficina”
Mitos infundados. Os veículos elétricos podem ser rebocados, preferencialmente em plataformas planas. E estão incluídos nos serviços de assistência convencionais e específicos para EVs, como o do ACP, que disponibiliza carregamento móvel de emergência em caso de pane.
A mobilidade elétrica já não vive de promessas futuras — é uma realidade consolidada. Como resume António Félix da Costa, campeão do mundo de Fórmula E em 2020, “não há desculpas. Os elétricos são seguros, rápidos, limpos e prontos para o dia a dia. E estão a poupar o planeta.”