É o risco de incêndio maior nos automóveis elétricos? As imagens do camião carregado com veículos daTesla a arder na autoestrada voltaram a pôr a questão na ordem do dia. Mas os especialistas dizem que não.
Neste artigo:
Fogo em elétricos é notícia
Um camião com automóveis a arder com chamas fortes, que obrigam ao corte de uma autoestrada, é obviamente notícia. Mas o facto de os automóveis serem Tesla dá-lhe outra dimensão.
O risco de incêndio é maior nos automóveis elétricos? Os especialistas dizem que não. O que se passa é que sempre que um 100% elétrico (BEV) arde é notícia e isso faz aumentar a perceção de que o risco de incêndio nos elétricos é maior. Mesmo neste caso, em que o fogo começou no rodado do camião.
O estudo sueco sobre o risco de incêndio
O estudo mais completo sobre o risco de incêndio que se conhece foi elaborado pela Autoridade Sueca de Proteção Civil (Myndigheten för Samhällsskydd och Beredskap – MSB). De acordo com esta agência, os BEV e híbridos têm muito menos hipóteses de pegar fogo do que os automóveis a combustão.
Concretamente, o MSB afirma que o parque automóvel eletrificado na Suécia era, em 2023, de 661.000 veiculos. Tendo registado uma média de 16 incêndios em automóveis elétricos e híbridos por ano, as hipóteses de incêndio são de 1 em 38.000.
Há um total de cerca de 4,4 milhões de veículos de passageiros movidos a gasolina e diesel na Suécia, com uma média de 3.384 incêndios por ano, o que equivale a um risco de incêndio de 1 em 1.300.
O estudo do MSB ganha uma dimensão maior por a Suécia ser um dos países do mundo onde é maior a penetração dos veículos elétricos.
0,4% de todos os incêndios
De acordo com o estudo do MSB, apenas 29 EVs e 52 híbridos (PHEV) pegaram fogo na Suécia entre 2018 e 2022. Em média, incendiaram-se por ano 16 veículos movidos a baterias (BEV e PHEV), um valor muito baixo se tivermos em conta o número de incêndios em veículos
Em média, 3.400 veículos de passageiros ardem anualmente na Suécia, o que significa que os veículos elétricos respondem por 0,4% de todos os incêndios de automóveis de passageiros naquele países. Os híbridos representam 1,5%, para um total combinado de 1,9% de todos os incêndios de veículos de passageiros.
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Dito de outra forma, os carros movidos a combustão respondem, em média, por 98,1% de todos os incêndios de veículos de passageiros na Suécia anualmente.
Número estável
À medida que a venda de veículos elétricos (EVs), híbridos e híbridos plug-in (PHEVs) aumenta a cada ano, surge a questão se a taxa de risco de incêndio nesses veículos também crescerá.
O estudo da MSB citado pelo MotorTrend revelou que, apesar de um aumento nos incêndios de 2019 para 2020, a taxa manteve-se praticamente constante nos últimos três anos, com 20 incêndios em veículos elétricos e híbridos em 2020, 24 em 2021 e 23 em 2022.
Durante o mesmo período, o número de veículos elétricos na Suécia mais que duplicou, alcançando quase 611.000. Antes de 2020, o número de EVs e híbridos que pegaram fogo foi menor, com 8 casos em 2018 e 6 em 2019.
O caso americano
Também nos Estados Unidos há vários estudos sobre o risco de incêndio nos veículos elétricos, mas os dados não são tão fiáveis, porque nem sempre se sabe que tipo de veículo se incendiou.
Isso não impediu os investigadores da AutoinsuranceEZ de analizarem os dados do National Transportation Safety Board e chegarem às suas conclusões.
Com base nesses dados, os analistas afirmam que “os veículos elétricos não pegam fogo tanto quanto as notícias afirmam. Os carros híbridos parecem ser os mais perigosos para incêndios, seguidos pelos veículos a combustão”
Os veículos híbridos realmente vêm em primeiro lugar com o maior número de incêndios por 100 mil vendas. Os veículos a combustão ocupam o segundo lugar no risco de incêndio, e os veículos elétricos em terceiro e último, com apenas 25 incêndios por 100 mil vendas de veículos elétricos.
“Não precisamos preocupar-nos”
Paul Christensen, professor de eletroquímica pura e aplicada na Universidade de Newcastle e conselheiro sénior do National Fire Chiefs Council inglês não tem dúvidas sobre a segurança dos automóveis elétricos no que ao risco de incêndio diz respeito.
“Como alguém que ajudou a Nissan durante a criação de sua fábrica de baterias, eu teria, se pudesse pagar uma, um Nissan Leaf amanhã”, afirma, citado pelo Autocar. “Não precisamos preocupar-nos com a pequena incidência de incêndios envolvendo veículos elétricos, mas precisamos estar atentos.
Fogo mais difícil
Apesar de, como vimos, o risco de incêndio nos automóveis elétricos ser menor, a verdade é que quando as chamas eclodem, são muito mais difíceis de combater.
Quando as baterias se incendeiam é muito difícil para os bombeiros apagar o fogo, por as baterias serem danificadas ou terem um defeito de fabrico.
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No caso das baterias de automóveis, a energia é armazenada pelo movimento de íons de lítio dentro de uma célula de bateria.
Incêndios em baterias exigem ataque específico
“No entanto – diz o site Interesting Engineering -, se as células estiverem danificadas ou houver erros de fabricação que levem a curtos-circuitos, “podem ocorrer reações químicas, desencadeando uma “fuga térmica”. Isso pode fazer com que as células se aqueçam rapidamente e liberem gás tóxico e inflamável. Por outro lado, incêndios em carros a gasolina podem ser causados por falhas elétricas que resultam em faíscas ou por superaquecimento do motor devido a problemas com os sistemas de refrigeração, que podem inflamar combustível inflamável”.
Este site recorda que os incêndios em baterias exigem mais água para serem extintos, podem queimar a temperaturas muito mais altas e são mais propensos a reacender em comparação com os veículos movidos a combustível tradicionais.
O EV FireSafe, um organismo privado subsidiado pelo estado australiano, disponibiliza uma série de recursos para o treino de combate aos incêndios em baterias.
A solução da Renault
A Renault afirma ter encontrado a solução para os incêndios prolongados nas baterias dos seus automóveis.
Estreada no Renault Scenic e-Tech, considerado o carro do ano europeu, o “Fireman Acess” é uma entrada para injetar água a pressão diretamente na bateria e que permite que o incêndio seja extinto em apenas 10 minutos.
Este bocal está colocado ao lado do desconector de bateria, na parte mais alta e traseira da bateria. Os dois estão colocados sob os assentos, pelo que o acesso é feito pelo interior do veículo.
O El Economista sublinha que os carros da Renault incorporam, desde 2023, um código QR externo com o qual os serviços de bombeiros e emergência podem acessar a ficha de resgate do veículo, com todos os dados relevantes do carro para poder intervir.
Duas boas soluções que bem se poderiam tornar standart na indústria.
Uma análise interessante, mas o incêndio não teve início em nenhum carro eléctrico.
O incêndio teve início no sistema de travagem do reboque, propagando-se ao meio envolvente.