A França acusa a Tesla de enganar consumidores ao dar informação errónea sobre condução autónoma (FSD), ameaçando o construtor norte-americano com uma coima diária de 50 mil euros se a situação não for resolvida
O Ministério da Economia francês aponta práticas comerciais enganosas e exige correções em quatro meses. O sistema vendido como “Capacidade de condução autónoma total” (Full Self Drive) ainda não está ativo na Europa.
Neste artigo:
Promessas sob escrutínio
A Direção-Geral da Concorrência, dos Assuntos do Consumidor e da Prevenção da Fraude (DGCCRF), entidade do Ministério da Economia francês, concluiu que a Tesla violou diversas normas de proteção do consumidor. No centro das críticas está a forma como a marca promove a funcionalidade FSD, que designa em Portugal como Capacidade de condução autónoma total.
“A Tesla induziu os consumidores em erro quanto à capacidade de condução totalmente autónoma dos seus automóveis”, refere o relatório da DGCCRF, divulgado no dia 24 de junho.
Site português da Tesla é claro
No configurador do site oficial de Portugal, a Tesla afirma sem margem para dúvidas que a “capacidade de condução autónoma total inclui o Autopilot Aperfeiçoado, além do controlo de semáforos e sinais de stop. Além disso, em futuras atualizações, o seu veículo será capaz de conduzir de forma autónoma em praticamente qualquer local com intervenção mínima do condutor”
A tecnologia FSD, vendida também em Portugal por 7.500 euros, não está ainda autorizada no espaço europeu. A Tesla oferece atualmente apenas um nível 2 de assistência à condução, o que implica que o condutor continue legalmente responsável pela viatura e tenha de manter atenção constante à estrada.
Irregularidades nos contratos e entregas
A investigação, iniciada em 2023 após queixas recebidas na plataforma oficial SignalConso, identificou ainda várias falhas nos processos de compra e entrega dos veículos. Nomeadamente, os investigadores detetaram contratos sem data, prazo ou local de entrega; pedidos de pagamento antes do fim do período legal de arrependimento em compras a crédito; ausência de recibo em pagamentos parciais; atrasos injustificados nos reembolsos; e falta de informação clara sobre modalidades e locais de entrega.
A Tesla tem agora quatro meses para regularizar a situação. Caso contrário, será sujeita a uma coima de 50 mil euros por cada dia de incumprimento.
Pressões adicionais sobre a imagem da marca
A Tesla enfrenta ainda uma ação judicial por parte de um grupo de proprietários franceses que querem cessar antecipadamente os seus contratos de leasing.
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Estes afirmam que, devido às recentes posições políticas públicas do CEO Elon Musk — incluindo o apoio à extrema-direita norte-americana e alemã — os seus veículos se tornaram “símbolos políticos com os quais não se identificam”.
FSD continua envolto em polémica
Desde 2019, Musk tem promovido o sistema Full Self-Driving (FSD) como sendo capaz de transformar os veículos Tesla em robotáxis e fontes de rendimento passivo. Chegou a afirmar que “comprar um Tesla é adquirir um ativo valorizável”.
No entanto, tais promessas continuam por cumprir, e a funcionalidade continua ausente do mercado europeu, estando, no entanto, a marca a testar já um serviço de robotáxis operado diretamente nos EUA, sem envolver os clientes.