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Dongfeng Box: uma caixinha de surpresas

É raro encontramos uma frase de promoção de um novo carro, elétrico ou não, tão certeira como no Dongfeng Box: “Urbano e Eficiente” são os adjetivos usados pelo importador português. E só pecam por defeito.

Não é assim tão simples…

Os EVs de marcas chinesas são muitas vezes acusados de serem “cópias baratas” dos seus congéneres europeus. É assim que o Leapmotor T03 “parece um Smart ForFour” (mas com uma frente claramente menos bem desenhada) e este Dongfeng Box nos faz lembrar de imediato um outro Smart, o #1.

Dongfeng Box
O Dongfeng Box @Dongfeng

Contudo, pelo menos no caso do Dongfeng, as coisas não são tão simples. Primeiro, porque as semelhanças (estéticas) vêm sobretudo das fotos; já na presença do carro, percebemos que o Box é diferente do Smart #1 em… bem, basicamente em tudo.


Uma marca com história

Tenho uma teoria sobre a razão por não vermos mais Dongfeng Box na rua (além do preço, que gostaria que fosse menor): o nome é “demasiado chinês”. Não é xenofobia, é a constatação de um facto. Os compradores de algo que custa mais de 25 mil euros também compram a marca. E a marca “Dongfeng” não é algo que soe particularmente apelativo.

E, no entanto, esta não é uma daquelas marcas chinesas que surgiu no mercado nos últimos 10 anos e que poderá desaparecer a qualquer momento. Bem pelo contrário. A história da marca remonta a 1969 e o nome Dongfeng surge pela primeira vez em 1975 – ou seja, há 50 anos.


Depois, porque é muito mais barato – já lá vamos – e, depois, porque após uma inspeção mais cuidada percebemos que as fotos e a realidade são coisas bem diferentes. O Donfgeng Box, pelo menos para mim, é uma muito agradável surpresa.

Por fora e por dentro

Vale a pena falarmos da estética porque o design continua hoje a ser fundamental na decisão de comprarmos um carro. E eu devo saber: conduzo um BMW i3, cujo desenho exterior, claramente não-consensual foi, certamente um dos fatores que esteve na origem do seu relativo insucesso.

Ora este não é um problema do Dongfeng Box. O carro é bem mais giro ao vivo do que nas fotos. Na verdade, não lhe encontro “um ângulo mau”, ao contrário de alguns no já referido Smart #1 (especialmente ¾ visto de trás). Admito que o desenho do carro não seja 100% original, mas também é verdade que não há nada de igual na estrada.

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Um desenho muito “limpo” @Dongfeng

O desenho é muito “limpo”, com puxadores embutidos nas portas e grupos óticos à frente e atrás que complementam de forma harmoniosa o desenho. O carro mede apenas 4 metros (4020mm para sermos mais precisos) e foi claramente concebido para a cidade.

No entanto, ao contrário de muitas propostas 100% citadinas, estamos aqui na presença de um veículo capaz de transportar 5 pessoas. O espaço atrás é surpreendentemente amplo e só lamentamos a decisão da Dongfeng de colocar apenas dois encostos de cabeça nos lugares de trás; o lugar central, sendo utilizável, servirá mais para uma criança ou uma cadeira de bebé – a menos que queiramos arriscar partir o pescoço em caso de colisão frontal ou travagem particularmente brusca.

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A falta de um terceiro encosto de cabeça é algo que deveria ser corrigido @Dongfeng

Dentro do Dongfeng Box encontramos mais algumas decisões discutíveis. A principal é a ausência de chapeleira, ou seja, de cobertura para a bagageira. Quando testei o carro, há já uns meses, recebi a informação de que o importador “estava a tentar arranjar uma solução”. No recente ECAR Show, confirmei no stand da marca que essa solução já existe… mas custa 300€.

Outra omissão seria a falta de suporte para Android Auto e/ou Apple Car Play. Contudo, neste caso, o importador incluiu (sem custo adicional) um “dongle” que se liga à porta USB junto à consola central com suporte para essas tecnologias (versão sem fios!), pelo que não nos podemos queixar. De resto, o Dongfeng Box inclui uma app que permite “espelhar” no ecrã central o que quer que se passe no nosso smartphone, pelo que mesmo sem esse adaptador, não haveria grande problema. Mas admito que assim a solução é ainda melhor.

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O adaptador USB para suporte Android Auto / Apple Car Play @DR

Já mais complicado de engolir é a ausência… de um rádio. É verdade que podemos usar funcionalidades de webradio do nosso smartphone, mas como vimos com o recente “apagão”, essa é uma solução que nem sempre é ideal.

Estas três omissões (chapeleira, encosto de cabeça e rádio) são as únicas que realmente me saltam mais à vista mas, como já vimos, foram encontradas soluções para quase todas elas. De resto, o primeiro “model year” do MG4 vendido em Portugal também só vinha com dois encostos de cabeça atrás, e isso veio a ser corrigido em versões posteriores, pelo que nem tudo está perdido. Ah, é verdade, há outra omissão: não existe app para controlar qualquer funcionalidade do carro à distância. Uma vez mais, trata-se de algo em que o importador diz que “a marca está a trabalhar” e que poderá surgir num model year posterior.

Quanto ao resto do habitáculo, só podemos dizer que está ao nível de EVs do segmento acima e com preços muito superiores. As funcionalidades, acabamentos e materiais usados quase nos permitem considerar como “luxuoso” o que nos é proposto.

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O nível dos acabamentos é invulgar para um carro deste segmento e preço @DR

Os materiais escolhidos para revestimento do tablier, com acabamento de estilo “acolchoado”, são excelentes, e o mesmo se pode dizer dos (poucos) botões físicos, caso dos comandos de abertura das janelas e controlo dos espelhos retrovisores. Um original porta-luvas que funciona como uma gaveta que se puxa para fora é uma excelente e original surpresa.

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O original porta-luvas, em forma da gaveta @DR

Infelizmente, esses comandos, juntamente com alguns adicionais, no volante, são praticamente os únicos botões físicos que encontramos, porque tudo o resto, incluindo a regulação da climatização, é feita através do ecrã central. Um ecrã adicional atrás do volante, oferece a habitual informação adicional para quem conduz.

Entre os equipamentos incluídos na versão testada (Box Plus) encontram-se alguns que nem sempre carros com o dobro do preço oferecem, como é o caso de “keyless entry” (as portas abrem-se e fecham-se automaticamente apenas com a proximidade do proprietário, desde que tenha a chave no bolso); câmara de 360; cruise control adaptativo; banco do condutor aquecido e ventilado; e banco do condutor com memória de posição e função “boas-vindas”, entre muitas outras. Encontra uma tabela completa com as funcionalidades de cada versão aqui.

Vocação urbana

“Urbano e Eficiente”, diz-nos a publicidade. E, na prática, ambas as vocações do Dongfeng Box se confirmam plenamente. Na cidade, o seu tamanho, conjugado com a excelente brecagem, favorecem um comportamento ágil; e este carro é, de facto, muito eficiente. Em circuito urbano, e sem grande esforço de poupança, foi fácil fazermos médias de 12 kW/100 km. Se cruzarmos esse consumo com a capacidade da bateria, de um pouco mais de 42 kWh, cedo descobrimos que é fácil atingir autonomias de quase 400 km.

Ao volante, infelizmente o carro não possui um verdadeiro modo de condução com um só pedal; a travagem regenerativa não é suficientemente forte para tal. Já o cruise controle adaptativo funciona particularmente bem e possibilita conduzirmos no “para-arranca” da hora de ponta só usando o volante.

Fora da cidade… Bem, fora da cidade não é claramente onde o Dongfeng Box se sente à vontade. O carro, mesmo no modo de condução Sport (os outros dois são Confort e ECO), tem uma resposta de acelerador não particularmente imediata. Continua a ser um carro que favorece uma condução calma – algo que eu não considero que seja um defeito, dado o seu posicionamento enquanto carro de vocação urbana – e é bom lembrar que, tal como acontece no Citroën ë-C3, a velocidade máxima está limitada a 140 km/h.

Tecnologia elétrica

Em termos do conjunto motriz, este é um carro produzido a partir de uma plataforma 100% elétrica designada Quantum Architecture Platform 3. Noutros mercados existe uma bateria de menores dimensões, mas em Portugal (e no resto da Europa) o Box está apenas disponível com uma moderna bateria LFP de 42 kWh equipada com um sistema de gestão térmica (aquecimento/arrefecimento) e capacidades V2L (adaptador não incluído).

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Conjunto motor/redutor/conversor do Dongfeng Box @Dongfeng

A diferença de preços é feita através do nível de equipamento – Box Plus (a versão testada) e Box Pro – sendo que nenhuma distinção é feita entre estas duas versões no que diz respeito à bateria, motor (de 95 CV), V2L e capacidade de carregamento.

O que é pena, porque é na capacidade de carregamento que este Dongfeng Box poderia beneficiar de algumas opções. Isto porque se a velocidade máxima de carregamento DC de 87,8 kW me parece bem para uma bateria deste tamanho, a limitação de 6,6 kW no carregamento AC poderá ser mais limitativa, ao não permitir tirar partido de carregadores AC trifásicos.

De qualquer forma, isto ser ou não importante irá sobretudo depender do cenário de utilização e opções de carregamento do proprietário do veículo. Para mim seria um deal breaker, mas imagino que para muitos potenciais interessados, seja irrelevante.

Veredito

Gostei bastante do Dongfeng Box. Aliás, acho até estranho não ver mais carros destes na rua, mas penso que tal se prende sobretudo com o preço, que me parece um pouco puxado, face ao que a concorrência oferece abaixo dos 30.000, mas também com a própria marca, ainda pouco conhecida (ver “Uma marca com história”) e muito “oriental”.

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Dito isto, o preço poderá parecer menos elevado se atentarmos ao nível de acabamento e às funcionalidades oferecidas. A versão Pro começa nos 26.750 euros, com a Plus a subir para os 28.000 euros (mas poderá encontrar campanhas online e/ou nos concessionários). A garantia para ambas as versões é de 5 anos 100.000 km para o carro e de 8 anos ou 160.000 km para a bateria.

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