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Automóveis elétricos chineses abalam indústria europeia

Durante anos, os fabricantes ocidentais olharam com sobranceria para os seus concorrentes da China. Mas agora, os automóveis elétricos chineses ameaçam abalar a indústria europeia.

EVs na mesa das negociações

Xi Jiping, o presidente da República Popular da China, está na Europa e os automóveis elétricos chineses são um dos assuntos à mesa das negociações. A União Europeia tem em mãos uma investigação aos subsídios estatais aos BEV chineses.

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Xi Jiping com Emanuel Macron e Ursula von der Leyen @YouTube

Ursula von der Leyen disse ao presidente chinês que a Europa “não hesitará em tomar decisões firmes” para proteger a sua indústria. Xi Jiping contrapôs, dizendo que “o chamado ‘problema de excesso de capacidade da China’ não existe, seja do ponto de vista da vantagem comparativa ou à luz da procura global”.

Pedro Pacheco: “a pior decisão possível”

Em novembro, a Europa pode aumentar as tarifas sobre os automóveis elétricos chineses. Em declarações ao EV Mag, o analista Pedro Pacheco afirma que “essa seria a pior decisão possível”

Para o Vice President of Research, Automotive and Smart Mobility da Gartner, se a Europa avançasse para medidas protecionistas “daria aos construtores europeus uma falsa sensação de segurança, o que levaria a ainda mais complacência em termos de foco em tecnologia eléctrica”.

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“A isso junta-se – sublinha Pedro Pacheco – a possibilidade de a China retaliar, o que tornaria a vida dos construtores europeus na China ainda mais difícil”.

Europa tem de dar sinal inequívoco

O analista da Gartner sublinha ainda que, “se a União Europeia deseja manter uma posição cimeira em descarbonização, a única alternativa prática na área da mobilidade é electrificação a 100%”.

“Contudo, isso não será possível se o mercado Europeu não tiver uma oferta competitiva de BEVs”.

“Por isso mesmo, o poder politico, em vez de adotar protecionismos, deveria dar um sinal completamente inequívoco aos fabricantes de que o futuro (próxima década) não passa pela combustão interna e que isso, na prática, implica electrificação”, salienta Pedro Pacheco em declarações ao EV Mag.

Automóveis elétricos chineses na vanguarda

Os portugueses que já se sentaram ao volante de um BYD Seal perceberam que os estereótipos sobre a indústria chinesa tinham de ser colocados de lado. Com uma forte componente tecnológica e boa qualidade de materiais e construção, o automóvel venceu o prémio de carro do ano em Portugal. E não foi por acaso.

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Os prémios ganhos pelo BYD Seal estão a impulsionar as suas vendas @BYD

Pedro Pacheco, Vice President of Research, Automotive and Smart Mobility da Gartner, diz ao EV Mag que os construtores chineses são hoje “mais avançados” do que os concorrentes europeus, nomeadamente ao nível das baterias, da arquitectura eletrónica e software, dos sistemas de apoio à condução e até do processo de fabrico.

“O período da China que copiava acabou”, afirmou à agência Lusa o diretor de marketing da fabricante alemã Volkswagen no país asiático, Jochen Sengpiehl. “A inovação está a acontecer aqui”, acrescentou.

Estruturas ágeis promovem mudanças

Carlos Martins, que dirige a portuguesa Sodecia, fábrica de componentes para automóveis no nordeste da China, não tem dúvidas de que a emergência das marcas chinesas vai ter um “grande impacto”na indústria.

Carlos Martins, que vive no país há dez anos, destacou à Lusa a velocidade “completamente diferente” de atuar dos fabricantes locais, em contraposição com as congéneres europeias, que têm estruturas organizacionais “muito pesadas” e que levam “muito tempo” a executar modificações.

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Construtores chineses conseguem menores custos @Freepick

O analista Pedro Pacheco concorda com esta visão, lembrando que uma das caraterísticas da indústria automóvel chinesa é “uma estrutura organizacional e processos internos que permitem um desenvolvimento de produto muito mais rápido e que, por isso, levam a mais uma redução de custo”.

Xiaomi é bom exemplo

Veja-se o caso do Xiaomi U7, que em apenas 3 anos de desenvolvimento se tornou realidade, saindo agora da linha de montagem a uma velocidade estonteante. E esta é outra das caraterísticas da indústria dos automóveis elétricos chineses.

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A Xiaomi ainda não divulgou planos para a entrada no mercado internacional @Xiaomi

Têm “processos de fabrico mais avançados, os quais permitem uma redução de custos, a par de qualidade avançada”, afirma o vice-presidente da Gartner.

“Ponto de viragem”

Mas para o analista da Gartner, uma das principais vantagens é o facto de alguns construtores já terem ultrapassado a paridade de custos entre automóveis 100% elétricos e com motores de combustão, o que aconteceu em grande parte graças à estutura organizacional e os processos de fabrico dos automóveis elétricos chineses.

“Este é um ponto de viragem significativo que permitirá a esses construtores utilizar esta vantagem ou para praticar preços mais competitivos ou para aumentar margens, ao passo que o grosso dos construtores europeus ainda luta para reduzir os custos de desenvolvimento e produção de BEVs”, sublinha Pedro Pacheco, em declarações ao EV Mag.

Maiores e mais competitivos

Num artigo recente, o New York Times afirma que “os fabricantes de automóveis elétricos chineses estão a construir uma nova geração de automóveis eléctricos maiores, tecnologicamente mais avançados e mais competitivos, ameaçando dar um salto em frente em relação aos seus rivais globais à medida que aumentam as exportações para todo o mundo”.

O jornal norte-americano afirma que as marcas que operam na China planeiam colocar 71 novos modelos eléctricos a bateria à venda este ano.

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Automóveis elétricos chineses estão maiores e mais competitivos @Freepick

“Muitos dos novos modelos têm capots mais altos para um aspeto mais arrojado e mais espaço de arrumação. Os carros têm pneus maiores que melhoram a travagem. Os bancos são mais grossos e mais confortáveis. As baterias são cada vez mais pequenas, mais potentes e mais rápidas de recarregar.” Assim descreve a publicação a nova geração de automóveis elétricos chineses.

As alterações têm como objetivo tornar os automóveis elétricos chineses ainda mais apelativos para os clientes na China e mais competitivos no estrangeiro. Juntamente com os automóveis híbridos plug-in, os automóveis eléctricos a bateria estão a retirar vendas aos automóveis a gasolina e aos seus fabricantes em todo o mundo, tendo já uma quota de mercado de 50% na China.

Chegada à Europa com impacto a longo prazo

Os automóveis elétricos chineses estão aí para quem os queira comparar e a ganhar adeptos entre os consumidores europeus. E isso terá impacto entre os construtores europeus.

“O impacto será visível, mas as consequências só se sentirão mais a longo prazo. Isto prende-se com o facto de o mercado europeu ser bastante exigente, dada a sua fragmentação e a desconfiança dos consumidores europeus relativamente a marcas não reconhecidas”, afirma Pedro Pacheco ao EV Mag.

Construtores chineses com concorrência na Europa

Mas nem tudo na chegada ao mercado europeu serão rosas para os fabricantes de automóveis elétricos chineses.

“Os construtores Chineses enfrentarão uma situação muito mais dificil do que a Tesla, aquando da sua chegada à Europa. A Tesla chegou numa altura em que praticamente não existia oferta eléctrica neste mercado e a que existia era bastante básica”, lembra Pedro Pacheco.

O cenário agora é completamente diferente , garante o analista, salientando que os construtores de automóveis elétricos chineses também se terão que defrontar com a Tesla em solo Europeu.

Um futuro problemático para os construtores europeus

Ao EV Mag, o vice-presidente da Gartner prevê “um progressivo aumento da quota de mercado dos fabricantes chineses, especialmente à medida que a legislação cerra o cerco aos veículos de combustão interna”.

“Obviamente – sublinha Pedro Pacheco – que as consequências para os fabricantes europeus não serão boas. A primeira derrota para eles será uma forte perda de mercado na China, à qual se poderá somar uma progressiva perda de mercado na Europa”.

“Tudo isto somado poderá refletir-se a longo prazo numa forte redução dos volumes de vendas para fabricantes europeus a nível mundial”, antevê o analista ao EV Mag.

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