No início de 2023, verificou-se um boom no registo de autocarros elétricos em França. Afinal, metade deles não existia. A fraude na obtenção de subsídios chega aos 12 milhões de euros.
Neste artigo:
Fraude ocorreu no início de 2023
Uma investigação do jornal Le Monde revela que mais de metade dos 600 autocarros elétricos registados entre o final de 2022 e o início de 2023 nunca existiram. Os autores das fraudes aproveitaram-se de lacunas no sistema de registo para a obtenção de subsídios à compra de autocarros elétricos.
De acordo com a investigação jornalística, a fraude ocorreu entre o final de 2022 e o início de 2023, altura em que o número de registos de autocarros elétricos disparou em França, passando dos 50 registos mensais para 300 em janeiro de 2023.
Aumento “espetacular” era burla maciça
“É o tipo de número que soa a boas notícias no caminho acidentado da transição ecológica: no final de 2022, as compras de autocarros elétricos em França aumentaram espetacularmente, passando de uma média de 50 por mês para 300 em janeiro de 2023”, afirma o Le Monde.
“Este boom, tão efémero quanto misterioso, tem agora uma explicação: é o resultado de uma burla maciça à custa do Estado, facilitada por falhas no sistema público de registo de veículos”, dizem os jornalistas Arthur Carpentier et Maxime Vaudano, que assinam a investigação.
Incentivo de 30.000 euros
O boom revelou-se uma fraude. O governo francês tinha acabado de introduzir o pacote de incentivos à compra de autocarros elétricos como parte do plano “France Relance”, desenhado para impulsionar a economia após a pandemia.
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O governo francês disponibilizou um total de 100 milhões de euros para apoiar a compra de autocarros elétricos, disponibilizando até 30.000 euros por veículo.
504 autocarros elétricos fictícios
O portal Transbus.org analisou os registos e concluiu que foram utilizados três modelos de autocarros para a fraude: o Karsan eJest (veículo da categoria M2, 492 casos), o Bluebus 6 metros (categoria M3, 11 casos) e o Heuliez GX 337 Elec (categoria M3, 1 caso).
Os números de série (VIN) utilizados não coincidiam com os veículos reais e, nalguns casos, revelaram incoerências. “Em alguns dias, foram registados até 45 autocarros elétricos fictícios”, informa o portal.
De acordo com esta outra investigação conduzida por Olivier Meyer, um total de 504 autocarros elétricos fictícios – 201 unidades em 2022 e 303 em 2023 – foram registados em nome de mais de 120 proprietários diferentes.
Ministério do Ambiente reconhece esquema
O Ministério do Ambiente francês admitiu a fraude ao Le Monde, mas sublinhou que o esquema foi rapidamente descoberto pelas autoridades, pelo que “os montantes evadidos ficaram muito abaixo dos 10 milhões de euros”. O jornal afirma que o Estado francês foi lesado cerca de 12 milhões de euros.
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Para receber o subsídio, os candidatos tinham de preencher um formulário, anexar o certificado de matrícula do veículo adquirido, cópias da fatura e da nota de encomenda datada, bem como os dados bancários, e enviá-lo por correio eletrónico para a Agência Estatal de Serviços e Pagamentos (ASP). O pagamento era então efetuado.